Guia de Vinhos Rui Falcão 2012 – O melhor Vinho do Ano

A tarefa é ciclópica e o empreendimento arrojado. Escolher um vinho, um só vinho entre os milhares de putativos candidatos, um nome que condense o que de melhor se fez num ano não é tarefa para ser encarada de ânimo leve. Nomear um só vinho entre tantos estilos diferentes, apurar um só eleito entre vinhos brancos, rosados, tintos, espumantes, Moscatel, Madeira ou Porto, não é empreitada fácil. Simplificar o universo tão complexo dos vinhos arremessando um só nome para a mesa não é uma missão dócil.

Mas a vida é feita de escolhas e de decisões e, apesar da perspectiva redutora das escolhas e das dificuldades inerentes, não me furto à tarefa. Este ano, o primeiro ano em que publico este capítulo, a escolha acabou por ser relativamente pacífica, tendo despontado de forma natural e sem as hesitações tradicionais de quem tem de tomar uma decisão ingrata.

Para meu espanto, porque na escolha do melhor vinho do ano seria expectável que a nomeação incidisse sobre um vinho generoso, o capítulo onde Portugal mais se destaca, a escolha recaiu sobre um vinho branco, curiosamente de uma das regiões menos estimadas pelos portugueses, a Bairrada, habitualmente conotada com os vinhos tintos da casta Baga. Que um vinho branco português possa hoje ser considerado como o melhor vinho do ano, elevando-se por direito próprio ao ponto mais alto da hierarquia qualitativa dos vinhos portugueses é algo de extraordinário!

O qualificativo de melhor vinho do ano foi então atribuído ao Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2009, um branco impressionante em todos os sentidos, do nariz à boca, da finura à precisão, do ritmo endiabrado da entrada na boca até à suave serenidade do final de boca. É um branco tenso e vivo, quase eléctrico de tão rijo, arrebatado como poucos, mastigável, mineral e explosivo, terminando numa roda-viva de emoções à solta. Um grande vinho branco!
 

7 Comments
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    Ricardo Levy Neves

    December 27, 2011 at 02:41

    É com muita satisfação que vejo um crítico e conhecedor de vinhos colocar um Vinho de Bairrada no topo! Não por eu ser desta região, mas por pensar que nela existe um potencial de grande qualidade que precisa de ser comunicado para o consumidor.

    Os consumidores hoje procuram vinhos diferentes,e penso que os Vinhos da Bairrada podem oferecer essa originalidade cada vez mais.

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    Rui Falcão

    January 4, 2012 at 12:35

    A Bairrada dispõe, sem dúvida, de um potencial tremendo para apresentar vinhos de qualidade diferenciados. Julgo mesmo que serão os vinhos brancos a melhor demonstrar esse potencial, embora seja fácil constatar que nem todos os produtores da região compreendem a importância dos vinhos brancos e das castas locais.
    Infelizmente, os produtores de referência continuam a ser poucos…
     

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    Rita B. Maia

    January 26, 2012 at 19:03

    Julgo que mesmo a casta baga está lentamente a desvincular-se da má reputação que tinha até há muito pouco tempo. Os bairradas, ao evoluírem uma década em garrafa, sofrem, na minha opinião, uma metamorfose incrível.Um Bairrada Caves Velhas 1980 atinge grande elegância e complexidade. O projecto Dores Simões Garrafeira, da Niepoort vem mostrar isso mesmo. E os preços são mais que acessíveis.
    Rita B. Maia recently posted..TrilogiaMy Profile

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    Rui Falcão

    January 26, 2012 at 19:31

    Rita Maia, sou um pouco menos optimista na ideia de uma possível recuperação do prestígio da casta Baga, e um pouco por arrasto, dos vinhos da Bairrada.
    Admito perfeitamente que junto dos consumidores mais esclarecidos a Baga já seja vista hoje sob uma perspectiva muito mais simpática e valorizadora, mas penso que esse passo ainda não foi dado pela maioria dos consumidores que continuam a encarar os vinhos de Baga com alguma desconfiança. E por outro lado convém ter sempre presente que estamos a falar de uma minoria de produtores que levam a Baga a sério e que a sabem trabalhar (na vinha e na adega), porque a maioria dos vinhos da casta insiste nos problemas do passado graças a uma má gestão na vinha e mau trabalho na adega.
    A Baga não é nada fácil e há que conhecê-la bem para a domar.
     

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    João Chambel

    February 3, 2012 at 08:40

    Caro Rui,
    Respeito muito a sua opinião, e ja tive a hipótese de lho dizer por varias vezes!
    Em relação á Baga, é triste ver o que se esta a passar… Em todos os livros sobre vinhos, nomeadamente na Wine Bible e na Sothebys Wine Encyvlopedia a Baga vem referenciada como capaz de produzir alguns dos melhores vinhos nacionais… Jancis Robinson atribuiu 18pts ao Sidonio Sousa Garrafeira… Acho que o problema vem de “dentro” e das modas a que o mundo do vinho esta sujeito…

    Sei que a Baga não é fácil de trabalhar, mas existem muitos vinhos que nem sequer são falados… Quem é que ja falou dos Quinta da Vacariça? Ou mesmo dos vinhos do Bussaco? E os Baga Friends!? Que iniciativas tem feito para promover a região e a casta…? Claro que é uma região mal amada… Ninguém fala dela, e o Rui na minha opinião esteve muito bem ao atribuir o prémio de vinho do ano a um Bairrada! Com isso pôs muita gente de olho na região!

    Temos de fazer mais…, no E Tudo o Vinho Levou somos fãs incondicionais da Bairrada e da Baga!
    Também recai sobre nos alguma responsabilidade da promoção e estamos a trabalhar para isso…

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    Rui Falcão

    February 3, 2012 at 09:37

    Caro João, muito obrigado pelas palavras amáveis.
    A Baga é capaz do melhor e do pior. Amanhã, aliás, sairá um artigo meu no Fugas precisamente sobre a Baga e os seus méritos e deméritos. A Baga não é boa simplesmente por ser Baga, mas porque alguns produtores, e só alguns, a percebem, a têm plantada nos sítios certos, a controlam e a sabem domar na adega. É uma variedade difícil e teimosa, aneira, com temperamento de diva e que é capaz do melhor… e, na maioria dos casos, do pior.
    Quando é bem feita, infelizmente quase sempre pelos mesmos produtores, é extraordinária. No entanto temos de reconhecer que a Baga é uma casta difícil, destinada a um nicho de mercado, e que nunca será uma variedade mainstream. E não há nada de mal nisso!
    Só dois detalhes sobre o seu comentário. Sobre os vinhos da Quinta da Vacariça ninguém poderá falar por ora de “forma oficial” porque os vinhos ainda não estão no mercado e ainda faltam uns bons meses para a sua comercialização. Os vinhos do Bussaco (de que eu já falei e escrevi abundantemente) têm essa terrível condicionante de só estarem disponíveis nos hotéis Alexandre Almeida, o que condiciona, como é natural, a sua comercialização e divulgação.
    Finalmente, e apesar de estarmos a falar na Baga, na verdade o prémio do vinho do ano foi atribuído a um Bairrada branco, com as castas Maria Gomes e Bical. Com as atenções viradas para a Baga, muitas vezes esquecemo-nos que a Bairrada tem muito mais vocação e potencial para fazer vinhos brancos de excelência que vinhos tintos de excelência…
     

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    RONEY ELIAS DA SILVA

    September 19, 2012 at 10:32

    CARÍSSIMO RUI FALCÃO, TIVE O PRAZER, A SATISFAÇÃO, A SORTE E SOBRETUDO A EXTRAORDINÁRIA OPORTUNIDADE DE OUVIR A SUA PALESTRA NO XV FESTIVAL CULTURA E GASTRONOMIA TIRADENTES, MG 2012 E NO FORUM SENAC GASTRONOMIA E CULTURA, 2012 “VINHOS DE PORTUGAL” E A SUA HUMILDADE, O SEU CARISMA E INTELIGÊNCIA IMPAR AUMENTARAM AINDA MAIS O MEU INTERRESSE PELOS VINHOS PORTUGUÊSES, ESPECIALMENTE OS ALENTEJANOS.
    GOSTARIA DE INFORMAÇÕES DE COMO ADQUIRIR O GUIA DE VINHOS, 2012.
    PARABÉNS PELO BELÍSSIMO TRABALHO, CORDIAIS ABRAÇOS, RONEY ELIAS DA SILVA

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