Os melhores do ano

A experiência ensina-nos a ser sóbrios e racionais. Ensina-nos a relativizar, a ter sensibilidade para os detalhes, a ter uOs melhores do anoma visão mais ampla e abrangente, a olhar para as pequenas singularidades que caracterizam os vinhos excepcionais. A experiência assiste-nos em distinguir entre um vinho com alma e um vinho tecnicamente irrepreensível. Faculta uma visão que se situa para além do intuitivo e do imediato.

A aprendizagem do vinho, como todas as grandes aventuras do conhecimento, é um percurso infindável feito de pequenos passos, de pequenas conquistas, de pequenas glórias, de grandes fracassos, de dúvidas e inquietações. Implica esforço, empenho sólido, labor árduo, estudo permanente, desideratos só possíveis por quem sinta verdadeira paixão pelo tema. Mas, acima de tudo, a experiência aconselha-nos humildade, discrição e pudor, talvez os qualificativos mais difíceis de abraçar no mundo do vinho, um mundo pejado de egos e presunções.

Esta escolha, a dos dez melhores vinhos nacionais, é uma escolha pessoal que transmite de forma clara o estilo de vinhos que mais me emocionam e desassossegam. É a minha confissão anual, a revelação e exposição dos meus gostos pessoais, a catarse que revela as minhas preferências íntimas. É aqui que assumo o meu gosto pessoal, que desapego o meu gosto individual da tentativa de crítica fria e analítica que qualifica este espaço. Este é o meu foro privado, e estes são os vinhos que mais me entusiasmaram ao longo deste ano.

O facto de este ano ser consagrado como declaração clássica de Vinho do Porto Vintage, determinou que a lista dos dez melhores tenha transbordado com três Vinhos do Porto absolutamente excepcionais. Não por acaso, três dos outros nomeados são vinhos brancos, de três regiões distintas, sinal inequívoco da crescente relevância quantitativa e qualitativa dos vinhos brancos nacionais. Os restantes indigitados, quatro vinhos tintos, provêm maioritariamente da colheita 2007, ano excepcional no Douro, ano muito bom no Dão. Por oposição, este ano não aclamei qualquer vinho do Alentejo, consequência natural de duas vindimas consecutivas pouco felizes na região, os anos de 2006 e 2007.

Os vinhos são apresentados pela ordem alfabética das regiões e, dentro de cada região, pela ordem alfabética dos nomes comerciais.

 

VINHOS NACIONAIS:

  • Luis Pato Vinha Formal 2008 (Beiras) – A história de um vinho branco que consegue ser simultaneamente brutal e delicado, carnudo e fresco, entroncado e polido. O triunfo de uma vinha, a exultação de uma casta! A confirmação de uma escolha. Instintivo!
  • Paço dos Cunhas de Santar Vinha do Contador branco 2008 (Dão) – Um corpo pesado, austero, duro e denso que, como que por artes mágicas, termina elegante, enxuto e fresco, pujante mas galante. Intransigente!
  • Pape 2007 (Dão) – A austeridade e sobriedade entendidas como virtude. A serenidade dos grandes momentos. Potência contida e urbana, embrulhada num manto de rusticidade. Um punho de aço numa luva de veludo. Tensão!
  • CV 2007 (Douro) – O ritmo é endiabrado, o compasso acelerado, a métrica prestíssimo, mas a melodia é morna e suave, numa cadência elegante que alterna entre rimas e dissonâncias. Um tinto sentimental! Afectuoso!
  • Quinta do Vale Meão 2007 (Douro) – A precisão e rigor matemáticos levados ao extremo. A sedução da fruta e o triunfo da elegância. A natureza selvagem do Douro também pode ser domada pelo homem. Meticuloso!
  • Ex Aequo 2006 (Estremadura/Lisboa) – Harmonia, serenidade, paz, simetria e ordem. A hipérbole da tranquilidade Zen num vinho melódico, rítmico, lírico, arrumado e retemperador. Graciosidade!
  • Soalheiro Reserva 2007 (Vinho Verde) – A perfeição ao alcance do homem. Frescura, ritmo, mineralidade, tensão e amplitude. A maturidade de um produtor e de uma casta. O triunfo da razão e do coração. Excelência!
  • Dow’s Vintage 2007 (Porto) – A intemporalidade e riqueza do génio humano. Cavalheirismo exacerbado. Músculo e sensibilidade convivendo em suave harmonia. A graça da natureza trabalhada pelo homem. Sumptuoso!
  • Graham’s Vintage 2007 (Porto) – Sedução pura. Luxúria e lascívia num vinho namoradeiro. Beleza e elegância de mãos dadas com racionalidade e erudição. Pura poesia romântica. Deslumbrante!
  • Fonseca Vintage 2007 (Porto) – Pontos e contrapontos, dramatismo e reviravoltas, harmonia e sobressalto. Dureza e tenacidade entremeados com suavidade e doçura. Estrutura, frescura e textura arrebatadoras. Descomunal!
2 Comments
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    Hugo Mendes

    December 7, 2009 at 00:07

    Rui,
    Poste mais! Este espaço faz falta! Os seus textos fazem falta e os seus gostos (out of the box!) fazem falta!

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    Rui Falcão

    December 8, 2009 at 01:39

    Hugo, obrigado pelo elogio implícito. Sim, também eu gostaria de poder dar mais atenção a este recanto de opinião, mas, infelizmente, sei que essa é uma daquelas promessas a que não me posso comprometer, sobretudo de forma sustentada.

    Abraço,
     

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