Quinta do Vesúvio Capela

Estabelecida por um tio de D. Antónia Ferreira, Bernardo António Ferreira, a Quinta do Vesúvio, é, certamente, uma das quintas durienses mais espantosas e distintas do Douro, a jóia da coroa da família Symington. A paisagem é deslumbrante, com a austeridade das arribas do Douro a marcar o compasso, a sensação de isolamento total, o terroir único. Por entre sete colinas e sete vales as exposições são muitas, as altitudes variadas, Quinta do Vesuvio Capelaos solos relativamente homogéneos, repletos de xisto, muito xisto, muita pedra, muito pó de xisto. Andar pela Quinta do Vesúvio não é tarefa fácil, sempre a descer, sempre a subir, embrulhados numa poeira permanente, num calor sufocante, num clima seco e extremado. Plantar uma vinha no Vesúvio é uma tarefa ciclópica, dura, só ao alcance das escavadoras modernas, da dinamite, das máquinas pesadas. Como terão sido duros os primeiros anos, anos de trabalho braçal, de trabalho bruto, com mais de 500 trabalhadores a retalhar diariamente os socalcos do Douro, a edificar muros nas encostas escarpadas do Douro, num esforço de descrição e compreensão impossíveis.

Muitos anos antes do conceito ser traçado já a Quinta do Vesúvio exportava os vinhos do Porto engarrafados, rotulados com o nome da quinta, na primeira aproximação de que há memória aos Vintage Single Quinta. No Vesúvio tudo foi, e tudo é, diferente, organizado num padrão único, num esquema diferente, numa forma de pensar distinta. E depois temos o terroir, esse termo tão gasto e desbaratado que aqui ganha verdadeira dimensão. Quando os Symington adquiriram a Quinta do Vesúvio, em 1989, sabiam bem o valor da quinta do Vesúvio. Tiveram a ousadia de transformar a quinta numa versão lusitana dos Chateaux de Bordéus, um símbolo de excelência, um rótulo mágico capaz de produzir um Porto Vintage em cada colheita, uma declaração por vindima. Desde 1989, data da edição do primeiro Quinta do Vesúvio Vintage, só em 1993 a quinta não foi capaz de gerar matéria-prima com qualidade suficiente para justificar um Porto Vintage. É estranho e admirável perceber que, anualmente, apenas 4% da produção total da quinta é aproveitada para Porto Vintage, para engalanar os Quinta do Vesúvio Vintage!

Porém, aparentemente, tal fortuna não era suficiente. Por isso nasceu agora o Quinta do Vesúvio Capela Vintage 2007, uma edição inaudita de um novo vinho, uma curta edição de apenas 3.000 garrafas, um Vintage diferente, sustentado num lote radicalmente diferente. Radicalmente diferente pela simplicidade, apenas três castas, Sousão (30%), Touriga Franca (30%) e Touriga Nacional (40%), pela escolha das castas, pela altitude das vinhas, pela cor ainda mais impenetrável que o costumeiro e pela preciosidade da casta Touriga Nacional ter sido vindimada quase um mês antes das castas Sousão e Touriga Franca.

Provado lado a lado com o Quinta do Vesúvio Vintage 2007, o Capela impressiona pela cor, pelos aromas químicos, pela rusticidade e vigor, pelo final poderoso e vigoroso. Não sendo um modelo de elegância, impressiona pela dimensão e brutalidade, pelos taninos vivos e pelo final muito doce. Sinceramente, apesar de nesta fase não conseguir descortinar facilmente de qual gostei mais, inclino-me para o Quinta do Vesúvio, mais suave e delicado, mais redondo e educado, num perfil energético e cheio que termina razoavelmente amável para tamanha juventude.

Sim, para quem está agora a pensar no preço, saiba que o Quinta do Vesúvio Capela 2007 vai ser caro, muito caro… provavelmente excessivamente caro!

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5 Comments
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    Hugo Mendes

    May 26, 2009 at 09:44

    Rui:
    Caro, caro foi esse silêncio!
    Não volte a faze-lo, peço-lhe, para bem de todos nós!
    Abraço
    Hugo Mendes

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    Rui Falcão

    May 26, 2009 at 10:15

    Hugo,

    Agradeço as palavras mais que simpáticas. Espero que sim, que o silêncio não se repita, sobretudo com tamanha intensidade, mas a experiência ensinou-me a não avançar com promessas que não sei se poderei cumprir. Bem sei que, de acordo com a filosofia “bloguista”, deveria diligenciar actualizações periódicas, uma, duas ou três vezes por semana. Porém, sei que nem sempre o poderei cumprir, tal como sei que não desejo ter esse compromisso, a obrigação de actualizações cíclicas.

    Por vezes por falta de tempo, por vezes por falta de inspiração, por vezes por indolência, por vezes apenas por falta de paciência, a verdade é que sei que nem sempre virei aqui com a assiduidade que deveria vir num espaço com estas características.

    Abraço,

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    Pingus Vinicus

    May 26, 2009 at 17:02

    Rui, já pensava que tinhas ficado farto da “blog-esfera”.
    Um abraço amigo

    Rui Miguel

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    Rui Falcão

    May 26, 2009 at 23:09

    Rui Miguel,

    Não, de todo, farto não é a expressão adequada. Mas o muito trabalho acumulado, associado a alguma preguiça, à necessidade de reservar tempo de qualidade para a família e à necessidade de impor alguma distância no trato diário com o vinho, para não ficar saturado, aconselharam esta pausa higiénica.

    Abraço,

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    FRANCISCO VIEIRA

    May 4, 2010 at 21:03

    Caro Rui Falcão,
    1º que tudo queria dizer-lhe que na minha modestissima opiniao é de longe o meu Jornalistica/critico de vinho favorito em Portugal.
    O seu Guia de vinhos deu-nos a conhecer, (a mim e a um grupo de amigos enófilos, entre os quais Nuno Griff), vinhos estrangeiros maravilhoso que ja provamos e q nos transportaram para o paraiso …; Marcel Deiss, Larmandier Bernier, Didier Daguenau, so para citar alguns de entre muitos e que nos proporcionaram momentos de puro prazer e deleite.
    Os outros guias de vinhos são terrivelmente maçadores, notas de prova sempre iguais.
    O vinho é paixão e deve-se falar com entusiasmo, os vinhos tipo coca-cola todos iguais nao vale a pena perder tempo com eles.
    So tenho a dizer-lhe muito obrigado e continue

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