Uma análise crítica de duas colheitas
As colheitas mais recentes, as que estão no mercado, são sempre as melhores! Ano após ano, vindima após vindima, esta é uma realidade incontornável na boca de qualquer produtor. Se 2003 foi o melhor ano de sempre, logo 2004 e 2005 o substituíram como o ano das grandes revelações, consagrando-se como anos de eleição. Agora é 2007 a surgir como a melhor colheita da década, um ano excepcional para tintos, um ano inigualável e extraordinário para brancos. Fortuitamente, a maioria vai abster-se de omitir considerações sobre a colheita de 2006, abstraindo-se de dissertar sobre esse ano fatídico. As razões são evidentes. O ano de 2006, funesto para a maioria dos produtores, foi um ano conturbado, um ano difícil, que alternou entre os escaldões de calor tórrido e a hecatombe das chuvas torrenciais na altura da vindima. Por isso, poucos produtores quererão falar abertamente sobre 2006. Por isso, no seu discurso estruturado, todos terão vindimado antes das chuvas, todos terão beneficiado de uma micro-exposição extraordinária, de um micro-clima generoso que os protegeu do calor…
E, goste-se ou não, a colheita de tintos que está no mercado é precisamente a de… 2006! Já em 2007 todos, sem excepção, terão tido o melhor ano da década… se não do século! Esta é a versão da maioria dos produtores, uma versão lógica e imbuída da necessidade de louvar e vender os seus produtos.
A colheita de 2006 foi então um ano dramático, um ano horrendo, onde a paciência de viticultores e enólogos foi duramente testada. Depois de um ano seco e quente, quase escaldante, um ano de stress hídrico, um ano em que as videiras suspenderam o ciclo vegetativo para salvaguardar o futuro, as chuvas constantes na vindima acabaram por condenar o ano agrícola. Quem vindimou antes das chuvas colheu fruta demasiado “quente” e torrada pela inclemência do sol. Os graus alcoólicos dispararam. Quem vindimou durante e após as chuvas diluvianas que assolaram Portugal na altura das vindimas, colheu muita podridão, muita diluição, muitas agruras. Foram demasiadas contrariedades para que 2006 possa ser considerado um ano interessante. Sim, necessariamente também existem bons vinhos em 2006. Mas a qualidade média é desoladora e os vinhos de excepção não abundam. É triste, mas é a dura realidade.
Finalmente arribamos a 2007, um ano absolutamente atípico, um ano que, ao contrário do provérbio, nasceu torto mas endireitou-se. O Inverno começou chuvoso e a Primavera continuou húmida, com alternâncias constantes entre sol e chuvisco. Pouco tardou até que o Míldio e o Oídio atacassem em força. Quem foi fazendo os muitos tratamentos preventivos necessários, caros e fastidiosos, salvou o ano. Os outros sofreram e, em muitos casos e em perfeita calamidade, perderam colheitas por inteiro. Sobretudo nas regiões menos acostumadas ao Míldio e Oídio, como o Douro Superior. O Verão foi fresco, muito fresco, como não há memória. Temperaturas amenas que permitiram uma maturação lenta e perfeita, sem sobressaltos, sem stress, sem contratempos de qualquer espécie. O tempo estável durante quase toda a vindima permitiu uma colheita extraordinária em todo o país, excepcional na qualidade, razoável na quantidade. Só uma pequena parte do Alentejo, nas cercanias de Estremoz, fugiu à estabilidade meteorológica na altura das vindimas. Podemos pois esperar vinhos excepcionais na colheita 2007, vinhos equilibrados e harmoniosos, vinhos ajuizados e bem proporcionados.
Por enquanto, são sobretudo os brancos de 2007 e os tintos de 2006 que estão no mercado. Como regra, e digo-o com algum constrangimento, não poderá esperar muito dos brancos e tintos de 2006, com as devidas excepções que confirmam a regra. Em contraponto, os brancos de 2007 já presentes no mercado, são, em muitos casos, absolutamente deliciosos. Alguns são mesmo excepcionais, vinhos extraordinários no carácter e qualidade, vinhos de qualidade ímpar. Os tintos de 2007 já presentes no mercado são os tintos mais jovens, pouco consentâneos com padrões qualitativos elevados. Para poder provar os melhores, ainda vai ter de esperar um ano. E aí vai descobrir a bênção dos céus. Espere pois bons vinhos brancos de 2007 e um ou outro belíssimo tinto de 2006. Para saber quais basta continuar a ler estas crónicas ao longo do próximo ano…
João Rico
January 23, 2009 at 11:46Caro Rui,
De volta às escrita cibernética? Ainda bem. Serei leitor assiduo e atento.
Abraço,
JR
Rui Falcão
January 23, 2009 at 12:17João,
Obrigado pelas palavras tão amáveis.
Abraço,
Luís Paiva
January 24, 2009 at 11:10Olá Rui,
Finalmente!
Já está nos meus favoritos para acompanhamento obrigatório.
E, como sempre, votos dos maiores sucessos.
Abraço,
LP
Rui Falcão
January 24, 2009 at 11:31Luís Paiva,
Muito obrigado pelas palavras tão simpáticas.
Será escusado reafirmar a satisfação que sinto pela sua presença aqui em casa.
Abraço valente,
José Tomaz de Mello Breyner
January 26, 2009 at 09:32Grande Rui
Welcome back.
Zé Tomaz
Rui Falcão
January 26, 2009 at 10:06Muchísimas gracias Zé Tomáz!